Reprovado em concurso, homem do DF tenta provar que não é deficiente – G1 – 17.03.14

Ele passou em todas as provas, mas foi reprovado por perda auditiva.
‘Deficiência auditiva não me impede de ser um excelente policial’, diz.

Por Isabella Formiga, do G1 DF, em 17.03.14

O educador físico Rodrigo Cardoso, de 31 anos (Foto: Rodrigo Cardoso/Arquivo pessoal)

Por pouco o educador físico Rodrigo Cardoso não alcançou o sonho de se tornar policial militar: aprovado nas provas objetiva, discursiva e no teste físico da PMDF, o brasiliense de 31 anos foi reprovado na etapa do exame médico devido a uma perda auditiva no ouvido direito.

Aos 10 anos, Cardoso perdeu 60% da audição após sofrer um acidente em um toboágua. Mesmo usando um aparelho corretivo para o exame da PM, ele foi considerado inapto para ingressar na corporação.

“Em termos legais, sou considerado normal, já que para ser deficiente, precisaria ter perda bilateral. O problema é que, para concursos públicos, não sou considerado nem deficiente, nem normal. Sou praticamente um zero à esquerda”, disse.

Inconformado com o resultado, Cardoso entrou com um recurso administrativo junto à Fundação Universa, que foi negado. Depois, contratou um advogado e recorreu na Justiça, mas teve o pedido indeferido. Nesta quinta-feira (13), mesmo com um documento médico atestando que, dentro de uma média, ele se enquadra no patamar exigido pelo concurso, o juiz rejeitou o recurso.

A Polícia Militar informou que o edital do concurso foi cumprido à risca e que casos adversos são decididos na Justiça e cumpridos rigorosamente pela corporação. O G1 aguarda retorno da Fundação Universa.

Em termos legais, sou considerado normal, já que para ser deficiente, precisaria ter perda bilateral. O problema é que, para concursos públicos, não sou considerado nem deficiente, nem normal. Sou praticamente um zero à esquerda”

Candidato a concurso da PMDF, Rodrigo Cardoso

“Entrei na Justiça para tentar reverter a situação, pois, mesmo sem o aparelho, nada me impede de ser um excelente profissional dentro da PMDF”, disse. “Nunca me senti limitado para nada. Se não falo que tenho perda auditiva, ninguém percebe.”

Cardoso diz que sempre praticou esportes e teve uma vida saudável e ativa. O sonho de ser policial militar é antigo, mas apenas recentemente resolveu se dedicar com afinco aos estudos e se inscreveu em um cursinho preparatório.

“Ser PM é um sonho, sempre tive essa vontade”, disse. “Nunca almejei um cargo administrativo, nunca quis ser bancário. Para mim, não tem profissão melhor do que um policial. O cara vai para a rua, vai para mostrar serviço, todo o dia é diferente, você passa por situações de “n” formas e eu sempre quis isso pra mim. Também gosto de ajudar os outros.”

O educador físico diz que se sente injustiçado, já que, ao contrário dos candidatos com problemas de vista, sua limitação auditiva o impede de entrar na corporação.

“Minha briga, o que me deixa mais revoltado, é: por que um cara pode entrar com perda de visão em um olho, desde que o outro esteja bom?”, indaga. “Em sua maioria, as pessoas entram na Justiça para provar que a perda auditiva unilateral é, sim, deficiência. Eu tento entrar para mostrar que sou capaz.”

Cardoso disse que vai prestar concurso para a Polícia Legislativa, que não têm restrições quanto à perda auditiva. No entanto, ele afirma que não vai desistir de obter na Justiça uma decisão favorável que permita que ele ingresse na PM.

“Não quero largar mais isso de mão nem a pau, não quero, não posso, quero isso para mim”, disse.  “Desde que passei no concurso, comecei a ouvir os toques de corneta da PM. Estou muito maravilhado com a coisa toda e, de repente, me sentindo desiludido.”

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